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O desafio relacionado ao código aberto

Liberdade de software e liberdade de uso são aspectos que devem ser considerados juntos. O licenciamento não acompanhou o avanço do software em nuvem e inteligência artificial.

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Imagem: MaxWdhs/FreePik

Colegas, enfrentamos uma questão relacionada ao código aberto. E não, não se trata do problema que muitos imaginam. Alguns criticam empresas que rotulam incorretamente seu código como sendo de código aberto. Às vezes eles têm razão. Outros lamentam a crescente presença de negócios apoiados por investidores que distorcem o propósito original do código aberto visando lucros corporativos. Às vezes eles têm razão.

Porém, as empresas não são o cerne do problema. O uso de marcas open source por empresas em busca de lucro não é algo novo. O que mudou nos últimos anos é que o software livre e open source perderam seu foco, deixando desenvolvedores (e empresas) com apenas uma opção: adotar o licenciamento permissivo, como o estilo Apache. O primeiro tipo de licenciamento de código aberto, defendido por alguns como não sendo “verdadeiramente aberto”, era o copyleft, como a GPL. Richard Stallman afirmou: “Queremos deixar claro que defendemos a liberdade, por isso não queremos ser confundidos como apoiadores de código aberto”.

É simples culpar as empresas, porém, o verdadeiro problema é que, ao tentar desenvolver software de código aberto mais maduro para ser utilizado por empresas, acabamos abrindo mão da capacidade de garantir a liberdade dos usuários.

Todos recebem, ninguém dá.

Não há algo chamado “IA de código aberto”, apesar de querermos acreditar nisso. A Open Source Initiative (OSI), que define o conceito de código aberto, levou mais de um ano para discutir como definir “fonte aberta” em um contexto de pesos, números de ponto flutuante e dados de treinamento. Stefano Maffulli, diretor executivo da OSI, sugeriu que o modelo de código aberto precisa evoluir para se adaptar à forma como o software é distribuído e executado. Ele está trabalhando para resolver esse desafio até outubro de 2024, pelo menos no que diz respeito à inteligência artificial.

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Pequena maravilha que a confusão esteja desenfreada no universo da inteligência artificial. A Meta, por exemplo, disponibilizou o Llama, seu grande modelo de linguagem (LLM), como código aberto. Apesar de ser oferecido gratuitamente para pesquisa e uso comercial, não segue exatamente as diretrizes tradicionais de código aberto, uma vez que possui restrições. Não é permitido utilizá-lo para aprimorar outros LLMs e nem por empresas com mais de 700 milhões de usuários ativos diários. Isso contradiz a definição do Open Source Initiative (OSI), que não permite restrições no uso do programa em determinados campos de atuação.

A Vice-Presidente de Pesquisa em IA da Meta, Joelle Pineau, afirma que as atuais licenças de código aberto não são adequadas para um mundo em que os dados de treinamento são essenciais, expondo os usuários a uma responsabilidade significativa. Mafulli concorda, afirmando a necessidade de repensar as licenças para abordar as limitações reais de direitos autorais e permissões nos modelos de IA, ao mesmo tempo em que preserva os princípios da comunidade de código aberto. Isso se tornou evidente com a IA, mas também é válido na computação em nuvem. O conceito de “open source” não acompanhou as mudanças nas formas de distribuição de software e nas necessidades dos desenvolvedores que o utilizam.

Temos dado mais importância ao direito dos desenvolvedores que usam o código para fazer o que desejarem, em vez de considerar o direito dos desenvolvedores que fornecem o código para garantir que seu software continue sendo livre. Anteriormente, eu achava que esse tipo de detalhe de licença era sem importância, mas agora estou menos convicto disso.

Ambas as partes neste momento.

Tenho mudado de opinião ao longo dos anos sobre o assunto. Em 2005, apoiei a GPL, afirmando que nenhuma outra licença de código aberto havia sido tão eficaz quanto a GPL em tornar o código aberto comercialmente viável. Em 2009, passei a favor da Licença de Software Apache. Em 2014, concordei com o analista do RedMonk, James Governor, que afirmou estarmos em uma era de “código-fonte pós-aberto”, devido à aparente falta de importância que os desenvolvedores davam às licenças usadas no GitHub. Reconheço que posso ter acertado e errado em cada posição que defendi, pois essas questões são complexas e não podem ser simplificadas.

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Ao longo do tempo, tenho inclinação ao uso de licenciamento permissivo, como o estilo Apache, argumentando que é benéfico para o crescimento da comunidade. No entanto, é difícil contestar a eficácia da ampla comunidade por trás do desenvolvimento do Linux, que é regido pela GPL. Uma vez que a liberdade está incorporada no software, torna-se mais desafiador (embora não impossível) fragmentar essa comunidade ou desvirtuar o projeto. Para mim, isso é crucial e por isso estou reconsiderando a importância da liberdade do software (GPL, copyleft), em contraste com apenas a liberdade do desenvolvedor/usuário (Apache).

Em tempos passados, os debates acalorados entre defensores do software livre e do open source (GPL versus Apache) proporcionavam uma tensão benéfica para o desenvolvimento do software. Essa disputa oferecia aos responsáveis pelos projetos a liberdade de escolher, algo que atualmente é mais limitado devido à diminuição das opções de licenças copyleft com a chegada da nuvem. No passado, as empresas costumavam utilizar licenças de código aberto por sua utilidade, mas atualmente estão criando novas licenças, já que organizações como a Free Software Foundation e a OSI têm se mantido presas a práticas do passado, enquanto o mundo do software avança para o futuro. Com isso, tanto desenvolvedores individuais quanto corporativos têm visto suas opções de escolha reduzidas ao longo do tempo.

Isso não implica que seja necessário sentir compaixão pelas startups ou empresas que buscam lucrar com o software que disponibilizam. Também não indica que seja preciso se entristecer pelas empresas bilionárias de computação em nuvem, cujos modelos de negócio se baseiam na constante oferta de software desenvolvido por terceiros.

Texto parafraseado: Deixe de lado as corporações e concentre-se no programador que deseja manter seu software disponível gratuitamente. Não existe a mesma proteção do copyleft em ambientes de nuvem e inteligência artificial, mas deveria existir. Atualmente, os desenvolvedores têm uma opção limitada em relação à licença de software open source (licenciamento permissivo, onde se pode pegar o código e utilizá-lo livremente), o que não é favorável para nossos interesses a longo prazo. A filosofia de código aberto é importante, assim como a liberdade do software. Devemos resgatar esses princípios.

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